É correto falar “índio”?

Você ainda usa a palavra “índio” para se referir aos habitantes originários da terra que há apenas alguns séculos chamamos “Brasil”? Você também já parou pra pensar a origem dessa palavra? Ela não surgiu dos próprios povos que vivem aqui há milhares de anos. 

Quando os europeus chegaram às Américas, no século XVI, acreditavam ter chegado à Índia. Por isso, chamaram os povos que encontraram por aqui de “índios”. No entanto, esse nome não faz sentido: ele foi criado por quem não conhecia a realidade desses povos. E mais: coloca todos eles dentro de um mesmo rótulo, como se fossem todos iguais, ignorando toda uma pluralidade de características de cada grupo. Para se ter uma ideia, atualmente, são mais de 300 povos diferentes só no Brasil, com línguas, culturas, histórias, modos de vida e formas de sentir e pensar o mundo profundamente singulares.

Kaká Werá, escritor, educador e ambientalista indígena, explica, em seu livro, “A terra dos mil povos” que o nome “índio” não vem da própria tradição desses povos. Na cultura de seus ancestrais, cada nome carrega um espírito, um significado profundo. Antes mesmo de existir a palavra “índio”, os povos indígenas já tinham muitas formas de se identificar – como  guarani, kaingang, xavante, krahô, entre tantos outros.

Então, ao dizer “indígena”, “povos indígenas” ou “povos originários” estamos reconhecendo essa diversidade e respeitando a forma como eles se veem e se nomeiam. Por isso, o mais respeitoso e correto é usar o termo “indígena”, que significa: aquele que é originário de uma terra. Ou seja, quem já estava aqui antes da chegada dos colonizadores.

Daniel Munduruku, outro escritor e educador (e também filósofo) indígena, compartilha algo muito importante em seu livro “Coisas de índio”. Segundo ele, quando era criança, não gostava de ser chamado de “índio”. Isso porque, desde cedo, ouvia coisas ruins sobre os indígenas — diziam que eram preguiçosos, traiçoeiros ou selvagens. E mesmo sabendo que isso não era verdade, o jovem Munduruku sofria com o preconceito de colegas na escola que o excluíam das brincadeiras só por ele ter “cara de índio”.

Essa rejeição o fez querer não ter nascido indígena. Entretanto, tudo começou a mudar quando seu avô mostrou que ser indígena é algo bonito e cheio de sabedoria. Foi ele quem disse que Daniel deveria ensinar às pessoas da cidade a riqueza dos povos originários. Hoje, o autor entende que aquele velho sábio queria mais do que animá-lo — queria que o Brasil aprendesse a respeitar quem sempre esteve aqui.

Daniel também explica que a palavra “índio” é usada de forma errada e cheia de preconceito. Por isso, no livro, ele escolhe usar os nomes dos povos (como munduruku, seu povo) ou o termo “indígena”. 

Que tal agora ouvir sobre esse assunto das próprias vozes dessas duas grandes e reconhecidas personalidades indígenas? Então, já que você nos leu até aqui, aproveite e assista aos vídeos recomendados abaixo: 


Trecho de uma entrevista com Kaká Werá (Roda Viva, 2017)






Fala de Daniel Munduruku proferida em uma edição do Mekukradjá 2018




Obs.: Os livros citados estão disponíveis gratuitamente na BibliON. Assim, basta clicar no título e a página será aberta.


Referências:

JECUPÉ, Kaká Werá. A terra dos mil povos: história indígena do Brasil contada por um índio. Ilustrações de Taisa Borges. 2. ed. São Paulo: Peirópolis, 2020. 128 p.

MUNDURUKU, Daniel. Coisas de índio: versão infantil. 3. ed. São Paulo: Callis, 2020.

Indígena, índio ou povos originários: Kaká Werá explica os diferentes termos. Produção: Roda Viva. 2024. 1 vídeo (5 min). Publicado pelo canal Roda Viva. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-Ctaluka9zk. Acesso em: 30 maio 2025.

Índio ou Indígena? Produção: Itaú Cultural. 2018. 1 vídeo (6 min). Publicado pelo canal Daniel Munduruku. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4Qcw8HKFQ5E. Acesso em: 30 maio 2025.






Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um convite para ouvir as vozes das mulheres indígenas

Recomendações de filmes e documentários no Itaú Cultural Play