Um convite para ouvir as vozes das mulheres indígenas
Você já
parou para pensar quantas escritoras — isso mesmo, mulheres! — já leu na vida?
E quantas escritoras indígenas? Mesmo com a presença cada vez mais forte de
mulheres na literatura, as vozes indígenas femininas ainda são pouco conhecidas
e visibilizadas. Mas isso, felizmente, está mudando! A atuação de mulheres
indígenas na literatura tem crescido, conquistando novos espaços e leitores.
Escritoras estão se fortalecendo coletivamente, publicando, organizando
eventos, ganhando prêmios e inspirando outras vozes a também se expressarem. E
a gente está aqui para somar nesse movimento: lendo, compartilhando e ajudando
a tornar essas narrativas mais conhecidas, acessíveis e vivas.
Que tal contribuir com a gente para mudar esse cenário? Uma boa forma é conhecendo e divulgando essas autoras. E nossa sugestão de hoje é justamente esta: o livro "Originárias: uma antologia feminina de literatura indígena", que é uma oportunidade de ouvir essas vozes com atenção e respeito. Reunindo contos e recontos de doze mulheres de diferentes etnias indígenas do Brasil, a obra é um verdadeiro mergulho em outras cosmovisões, ou seja, em formas diferentes de enxergar o mundo, de se relacionar com a natureza e de conhecer e aprender saberes, rompendo com estereótipos e abrindo espaço para narrativas que resistem, curam e transformam.
Cada história tem um tom diferente: algumas falam de amor; outras, da origem do mundo ou das pessoas; e há também aquelas que narram aventuras ou tradições. Algumas são mais poéticas, outras bem diretas, como nas rodas de conversa das aldeias. Todas têm algo em comum: valorizam a oralidade, a sabedoria ancestral e o respeito por tudo o que vive. Além disso, ao final de cada conto, o livro apresenta um pequeno texto com informações sobre o povo originário retratado na história e também sobre a autora que o escreveu. Nem sempre a etnia da autora é a mesma do povo do conto, e isso torna a obra ainda mais rica, pois mostra a diversidade de vivências, pesquisas e conexões entre diferentes culturas indígenas. É uma ótima forma de conhecer melhor cada uma dessas mulheres e os povos que elas representam ou homenageiam.
Publicado pelo selo Companhia das Letrinhas, voltado ao público infantojuvenil, é uma leitura que atravessa gerações — perfeita para estudantes, professores e qualquer pessoa interessada em conhecer mais sobre a diversidade dos povos indígenas brasileiros. Ao mesmo tempo, amplia nossos horizontes e nos lembra que há muitas formas de viver, pensar e cuidar do mundo — todas merecendo ser respeitadas. É um livro para ler com calma, curtindo cada história como quem escuta uma avó contando memórias ao pé do fogo.
As ilustrações, de Mauricio Negro, são belíssimas e simbólicas. Elas ajudam a entrar nesse universo rico em cores, sons e significados. Além disso, o livro traz informações sobre cada povo indígena representado, um glossário com palavras em línguas originárias e pequenas biografias das autoras — que, além de escritoras, são também educadoras, artistas, ativistas e guardiãs de sua cultura.
Organizadores:
Trudruá Dorrico é uma mulher indígena do povo Macuxi. É doutora em Teoria da Literatura (PUCRS) e tem se destacado como escritora e pesquisadora. Venceu o prêmio Tamoios/FNLIJ/UKA em 2019 e atua ativamente na divulgação da literatura indígena contemporânea por meio do Instagram (@leiamulheresindigenas), do YouTube e como colunista da ECOA/UOL.
Maurício Negro é ilustrador, escritor, designer e pesquisador. Atua há mais de vinte anos com projetos editoriais, audiovisuais e socioculturais ligados à diversidade brasileira. Já recebeu prêmios importantes, como o White Ravens, o Noma e o Jabuti, e é reconhecido por seu trabalho com temas culturais, identitários e socioambientais.
O livro contém as seguintes histórias, dos respectivos povos e autoras:
Omáua, a menina que mora no fundo dos rios — Povo Omágua-Kambeba, de Eliane Potiguara
A história de Paká — Povo Kinikinau, de Naine Terena
A história de Poxi — Povo Tupinambá, de Glicéria Tupinambá
Uruapeara, a pirarara encantada, o mapinguari e o pajé que se tornou cobra grande — Povo Buhuaren-Mura, de Márcia Mura
Nãna e os potes de barro — Povo Pankará, de Chirley Maria Pankará
A onça-pintada no pescoço de Kauany, a guardiã dos segredos — Povo Tabajara, de Auritha Tabajara
Ubani e a pirapema — Povo Karipuna, de Bruna Karipuna
Como as águas vieram ao mundo — Povo Krenak, de Lidiane Damaceno Krenak
Paata maimu — Povo Taurepang, de Telma Taurepang
Paata maimu — Povo Taurepang, de Telma Taurepang
Iny Karajá, a criação — Povo iny Mahadu-Karajá, de Simone Karajá
A história de Jũmẽ e Fe Há (a origem da araucária e da gralha-azul) — Povo Kaingang, de Vanessa Kaingang
O caçador e o curupira — Povo Macuxi, de Trudruá Dorrico
Quer mais algumas sugestões? Então dê uma olhada em “A autoria originária em relevo na literatura indígena” , um texto publicado por Trudruá Dorrico. E por que não finalizar com um vídeo de uma entrevista com ela também, não é?
Prometemos trazer mais indicações em futuros posts, sempre com o cuidado de valorizar a produção literária indígena e dar espaço para vozes que merecem ser ouvidas. Fica com a gente!
Referências:
DORRICO, Truduá.; NEGRO, Mauricio (org.). Originárias: uma antologia feminina de literatura indígena. Ilustrações de Mauricio Negro. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2023.
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