Que tal jogar um jogo?

Já ouviu falar do Jogo da Onça? Se soa como uma novidade para você, acredite, não é! O Jogo da Onça (também conhecido como Adugo, palavra que significa “onça” na língua dos Bororos) é muito mais do que uma brincadeira: é parte da cultura de diferentes povos indígenas do Brasil. O jogo é disputado entre duas pessoas: uma controla a onça, um animal veloz e feroz; a outra, os 14 cachorros. 

Fonte: Instituto Moreira Salles

A missão da onça é capturar os cachorros. Já os cachorros precisam trabalhar em equipe para encurralar a onça e impedir que ela se mova. É preciso pensar bem, como num jogo de damas, mas com um toque da cultura dos povos indígenas brasileiros!

De onde veio essa ideia?

O Jogo da Onça é um dos poucos jogos de tabuleiro de origem indígena conhecidos no Brasil. Pesquisadores encontraram em aldeias de diferentes povos, como os bororos, manchineris e guaranis, e é passado de geração em geração, muitas vezes desenhado no chão com galhos ou giz e jogado com sementes ou pedrinhas. 

Durante muito tempo, acreditava-se que o jogo tivesse vindo de Portugal, mas pesquisas mostraram que ele já era conhecido pelos povos indígenas antes da chegada dos colonizadores. Alguns estudiosos ainda levantam a hipótese de que ele tenha semelhanças com jogos de civilizações antigas, como os incas ou os egípcios, mas o formato e o jeito de jogar encontrado aqui é único!

Além de divertido, o jogo também carrega ensinamentos importantes: ele ajuda a desenvolver a estratégia, a paciência e até o trabalho em grupo. Para os povos indígenas, ensinar uma criança a jogar a onça era também uma forma de ensinar a viver, de simular a convivência na floresta, onde é preciso observar, pensar e agir com sabedoria.


Regras básicas do Jogo da Onça


Número de jogadores: 2

  • Um jogador comanda a onça (1 peça).

  • O outro comanda os cachorros (14 peças).

Objetivos:

  • Onça: capturar (comer) pelo menos 5 ou 6 cachorros.

Em algumas versões, o número de cachorros capturados pode variar.

  • Cachorros: cercar a onça até que ela não possa mais se mover.

Como jogar:

  1. O tabuleiro tem linhas e intersecções (pode ser desenhado no chão ou impresso).

  2. As peças (onça e cachorros) só se movem pelas linhas do tabuleiro.

  3. A onça pode mover-se uma casa por vez para qualquer direção (vertical, horizontal ou diagonal).

  4. A onça também pode “comer” um cachorro pulando por cima dele, desde que tenha uma casa vazia logo após.

  5. Os cachorros não podem capturar a onça. Eles só se movem uma casa por vez, tentando cercá-la aos poucos.

  6. O jogo termina quando:

  • A onça captura 5 ou 6 cachorros (vitória da onça). 

  • Os cachorros cercam a onça, e ela não consegue mais se mover (vitória dos cachorros).


Você pediu tutoriais em vídeo? Então, aqui vão dois:



E agora que você conhece um pouco, que tal chamar sua turma e experimentar esse jogo no próximo intervalo na biblioteca ou no pátio da escola? 

Ah, e se você quiser se aprofundar ainda mais, descobrir curiosidades sobre a origem do jogo, as estratégias que ele ensina e como ele pode ser usado nas escolas, vale muito a pena conhecer o material elaborado pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. O livro digital “Jogo da Onça” faz parte da “Coleção Jogos de Tabuleiro” e está disponível gratuitamente. É uma leitura cheia de descobertas, escrita com a ajuda de professores, pesquisadores e até educadores indígenas! Muito útil para vocês também, educadores e bibliotecários, que desejam levar para a sala de aula ou para a biblioteca práticas que valorizam a cultura indígena e incentivam o pensamento estratégico desde cedo. Clique aqui, em Jogo da Onça, para acessar o livro completo.

Referências:

AMORIM, Rovênia. Ministério da Educação. Jogo de tabuleiro criado por indígenas empolga estudantes. 11 nov. 2013. Disponível em: https://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/222-537011943/19235-jogo-de-tabuleiro-criado-por-indigenas-empolga-estudantes. Acesso em: 8 jun. 2025.

DIMENSTEIN, Gilberto. Folha UOL. Jogos indígenas saem das aldeias e invadem milhares de escolas. 09 ago. 2004. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/noticias/gd090804b.htm. Acesso em: 8 jun. 2025.

FERREIRA, Maria Beatriz Rocha; VINHA, Marina; SOUZA, Aluisio Fernandes de. Jogos de tabuleiro: um percurso em etnias indígenas. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, [s. l.], v. 16, n. 1, p. 47-55, 07 out. 2009. DOI: https://doi.org/10.18511/rbcm.v16i1.1115. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/rbcm/article/view/1115. Acesso em: 8 jun. 2025.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Museu de Arqueologia e Etnologia. O Jogo da Onça. [Paraná], [20--?]. Disponível em: https://mae.ufpr.br/downloads/atividade_jogo_da_onca.pdf. Acesso em: 8 jun. 2025.

Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Jogos de Tabuleiro: Jogo da Onça. São Paulo: COCEU, 2020. 130 p. Disponível em: https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2021/07/Miolo-e-Capa-Jogo-da-Onca-WEB-1.pdf. Acesso em: 8 jun. 2025.

VEJA AS REGRAS EM DETALHES DO JOGO DA ONÇA. 2019. 1 vídeo (5 min). Publicado pelo canal VemKaJogar. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NJFtAzorA-Y. Acesso em: 10 jun. 2025.

Jogos & Algo a Mais... Ep.155 - JOGO DA ONÇA. 2022. 1 vídeo (6 min). Publicado pelo canal Marcellão Jogos & Algo a Mais. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=79qlLJyUiE0. Acesso em: 10 jun. 2025.

Povos Indígenas no Brasil. Boe (Bororo). Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Bororo. Acesso em: 10 jun. 2025.

Povos Indígenas no Brasil. Manchineri. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Manchineri. Acesso em: 10 jun. 2025.

Povos Indígenas no Brasil. Guarani. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Guarani. Acesso em: 10 jun. 2025.






Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

É correto falar “índio”?

O perigo dos estereótipos sobre os povos indígenas

Recomendações de filmes e documentários no Itaú Cultural Play